Joaquim Manuel Magalhães | Os Dias, Pequenos Charcos

Jorge Molder

di Valentina Toschi

*

Os Dias, Pequenos Charcos | I giorni, piccoli stagni

*

PRINCÍPIO

No meio de frases destruídas,
de cortes de sentidos e de falsas
imagens do mundo organizadas
por agressão ou por delírio
como vou saber se a diferença
não há-de ser um pacto novo,
um regresso às histórias e às
árduas gramáticas da preservação.
Depois dos efeitos da recusa
se dissermos não, a que diremos
não?           
Que cânones são hoje dominantes
contra que tem de refazer-se
a triunfante inovação?
Voltar junto dos outros, voltar
ao coração, voltar à ordem
das mágoas por uma linguagem
limpa, um equilíbrio do que se diz
ao que se sente, um ímpeto
ao ritmo da língua e dizer
a catástrofe pela articulada
afirmação das palavras comuns,
o abismo pela sujeição às formas
directas do murmúrio, o terror
pela construída sintaxe sem compêndios.
Voltar ao real, a esse desencanto
que deixou de cantar, vê-lo
na figura sem espelho, na perspectiva
quase de ninguém, de um corpo
pronto a dizer até às manchas
a exacta superfície por que vai
onde se perde. Em perigo.

*

PRINCIPIO

In mezzo alle frasi distrutte,
ai tagli di significato e alle false
immagini del mondo organizzate
per aggressione o per delirio
come saprò se la differenza
non dovrà essere un patto nuovo,
un ritorno alle storie e alle ardue
grammatiche di conservazione.
Dopo gli effetti del rifiuto
se diremo no, a cosa diremo
no?
Quali canoni sono oggi dominanti
contro chi dovrà rifarsi
il trionfante rinnovamento?
Tornare insieme agli altri, tornare
al cuore, tornare all’ordine
dei dolori con un linguaggio
pulito, un equilibrio da ciò che si dice
a ciò che si sente, un impeto
sul ritmo della lingua e dire
la catastrofe con l’articolata
affermazione delle parole comuni,
l’abisso con il vincolo delle forme
dirette del mormorio, il terrore
con la costruita sintassi senza compendi.
Tornare al reale, a questo disincanto
che ha smesso di cantare, guardarlo
nella figura senza specchio, nella prospettiva
quasi di nessuno, di un corpo
pronto a dire persino le macchie
l’esatta superficie dove passa
in cui si perde. In pericolo.

*

CODA

O anjo solar, o outro das sombras
e esse que vagueia nos crepúscolos,
primeiro o da manhã, depois o do atardecer
desanham sinais que sigo para chegar a ti.

As leis revogáveis. Não as
do palmo a palmo de trabalho
e chegar à noite sobre a televisão.
Não as da hegemonia: as
do diálogo conflituoso. Sem
a liberdade apenas concedida.
As ajustáveis sempre a outra mágoa.

Na esquina assombrada pela lua de março
o vendedor de jornais passava pelos vidros
onde a chuva deixava marcas de pó.

A monstruosidade mercantil da vida
comerceia o que sou e o que faço,
dia atrás de dia.
Quero gerir o que me destinam.
A global ladeira das revoltas
è a revolução: a autonomia.
A prática das diferenças, a civilização.

Vê come é fácil dizer é meio-dia.

A vantagem intermédia da cultura
opõe a natureza ao meu desejo.
Sobre um regime de tropa e de sargaço
as palavras fomentam um caudal
adormecido.
Consumo, poder e estatuto
como destrui-los e erguer
o fragmento novo do que não se sabe?
Quando a questão de fome se não põe.

As coisas caíram. Voltaram
ao lodo da terra. Ouve
esse cerrado amor e subir
dos troncos para as mãos
inumeráveis. De quê, não sei.

A poesia também, mas
vazia do que foi antes de mim.
A outrora alma e esse catálogo
de trocas chamado a critica
recolhe o que não fez sentido
desde que seja usável. O novo
é medido a silêncio, só
renasce depois.
Só a morte dirá como é?

Trevas e fogo.
Negrilhos.

O barulho diário dos assuntos a tratar
suprime o nível comum do coração,
esse objecto acidental e de tráfico
mais vasto do que partir para outra rua.
O poder da cidade fere nos semáforos
que me fazem chegar longe de ti.
A um balcão fiscalizado, aos comuns
extermínios dos espaços salariais.
Tu a pensar em mim no outro extremo
de ruas iguais a esta rua,
com fachadas úteis, serviços pontuais,
carimbos e assinaturas.
Tão pouco tempo, meu amor, és o meu amor.

Pétalas ajustadas pelo sol
ao cálice de água verde
onde rompe a brancura azul
da luz.

Anoitece. Ruínas. As palavras
obedecem a dominações.
Cavando os campos,
trazendo o ferro a moldes subtis.
Outros cantam.
Imagens falsas flutuam nos versos.
Num povo, nos saibros, nas docas.
Na manhã roubada ao repouso.
Império das palhas. Sem partilha. Sem
a lenda fraternal. Corpo sem os seus
combates. Meus amigos.

Vi o alcião pelos mares de inverno
antes de o vento norte dispersar
as sete filhas de maio,
as seis pléiades.
Levava um filho morto sobre as penas
e chorava pelo musgo imenso das águas.
Que não falasses de ti. Mesmo que visses
na soleira da porta o ramo de piorno
que sabes ser sinal para partir.
O balcão sombrio cercado de loureiro.

Vemos a catástrofe povoar a terra,
de cada vez dizemos «já passou».

*

CODA

L’angelo solare, l’altro delle ombre
e questo che vaga nei crepuscoli,
prima quello del mattino, poi quello della sera
tracciano segni che seguo per arrivare a te.

Le leggi revocabili. Non
quelle del lavoro che a mano a mano
arrivano di notte sulla televisione.
Non quelle dell’egemonia:
quelle del dialogo conflittuale.
Senza la libertà appena concessa.
Quelle adattabili sempre al prossimo dolore.

Dietro l’angolo oscurato dalla luna di marzo
il giornalaio passava attraverso i vetri
dove la pioggia lasciava macchie di polvere.

La mostruosità mercantile della vita
commercia ciò che sono e ciò che faccio,
giorno dopo giorno.
Voglio gestire ciò che mi destinano.
Il pendio globale delle rivolte
è la rivoluzione: l’autonomia.
La pratica delle differenze, la civilizzazione.

Vedi com’è facile dire è mezzogiorno.

Il vantaggio intermedio della cultura
oppone la natura al mio desiderio.
Contro un regime di militari e di sargasso
le parole fomentano un flusso
addormentato.
Consumo, potere e statuto
come distruggerli ed erigere
il frammento nuovo di ciò che non si sa?
Se il problema della fame non si pone.

Le cose caddero. Tornarono
a fianco alla terra. Avvenne
questo vincolato amore e salire
dai tronchi alle mani
innumerevoli. Di cosa, non so.

Anche la poesia, ma
vuota di ciò che fu prima di me.
Un tempo l’anima e questo catalogo
di scambi chiamato critica
raccoglie ciò che non ebbe senso
affinché sia utilizzabile. Il nuovo
è misurato al silenzio, rinasce
soltanto dopo.
Solo la morte dirà com’è?

Tenebre e fuoco.
Olmi.

Il rumore giornaliero degli argomenti da trattare
sopprime la misura comune del cuore,
questo oggetto accidentale e di ampio
traffico più che andarsene per un’altra strada.
Il potere della città ferisce ai semafori
che mi fanno arrivare lontano da te.
A uno sportello sotto sorveglianza, ai comuni
stermini degli spazi salariali.
Tu che pensi a me dall’altro lato
di strade uguali a questa strada,
con coperture utili, servizi puntuali,
timbri e firme.
Per così poco tempo, amore mio, sei l’amore mio.

Petali aggiustati dal sole
al calice d’acqua verde
dove rompe il biancore azzurro
della luce.

Si fa notte. Rovine. Le parole
obbediscono alle dominazioni.
Scavando i campi,
portando il ferro a stampi sottili.
Gli altri cantano.
Immagini false fluttuano nei versi.
Sul popolo, sulla ghiaia, sui pontili.
Al mattino rubato al riposo.
Impero della paglia. Senza condivisioni. Senza
la leggenda fraterna. Corpi senza i suoi
combattimenti. Miei amici.

Vidi l’alcione sui mari d’inverno
prima che il vento del nord disperdesse
le sette figlie di maggio,
le sei Pleiadi.
Portava un figlio morto sulle penne
e piangeva sul muschio immenso delle acque.
Che non parlassi di te. Anche se vedessi
sulla soglia della porta il ramo della ginestra
che sai essere segnale di partenza.
Il balcone buio circondato d’alloro.

Guardiamo la catastrofe popolare la terra,
ed ogni volta diciamo «ormai è andata».

*

Immagine: Jorge Molder, O pequeno mundo (2014).

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